Não há uma família no anime que não se preocupe com seus
filhos, todas tentam, a sua maneira, serem exemplares para eles. Como é
esperado, de uma forma geral, pais não permitiriam que seus filhos fizessem uma
longa viagem sem estar acompanhados de um adulto. No anime as crianças não
precisam ser acompanhadas pelos adultos para irem até a escola, no Japão isto é
bem comum, andar em grupos até a escola é o que ocorre recorrentemente.
O adulto
possui um papel de assistir e educar a criança, promover sua integridade física
e espiritual, isto vale para as famílias de uma forma geral, não apenas no
anime. É comum que nesse processo de cuidar e educar os pais se tornem
superprotetores e/ou projetem seus sonhos e desejos nas crianças, desenvolvendo
seus complexos. É comum pensar que uma criança aos 10 anos não possui capacidade
para tudo o que um adulto faz sozinha, mas é importante saber que ela não
precisa fazer o que um adulto faz, ela precisa ser autônoma para fazer o que
ela quer fazer, aquilo que seus 10 anos despertam a nível de vontade, ser capaz
de cumprir seus interesses pessoais. Se formos piagetianos, entre 7-8 anos,
aproximadamente, a criança inicia o jogo com regra, que significa basicamente:
ela fará com que as regras do jogo sejam cumpridas por todos e ela também se
submeterá às regras para que o jogo aconteça, o que pede uma socialização das
ações. Inicialmente cumprem-se as regras porque as regras devem ser cumpridas,
e com o passar do tempo a criança entende que as regras podem ser modificadas
para que todos consigam jogar de forma justa.
A autonomia não acontece a partir de uma idade ou é dada por
um conjunto de ações específicas para, a partir daí, dizer que a criança é
autônoma. A criança precisa sentir desde cedo a autonomia, que pode ser feita à
moda Montessori, como vejo alguns pais que buscam por pedagogias alternativas
montarem o quarto para seus filhos recém nascidos de formas pouco
convencionais: menos tradicional e mais pedagógico. A ideia principal é que os
brinquedos ficam em estantes ou baús, à altura da criança, e o quarto é
preparado para atender as necessidades da criança e todos os móveis são
adequados à altura da criança para que ela sinta-se confortável. Essas são
medidas que influenciam de forma positiva o desenvolvimento da autonomia na
criança, pois ela não precisa se adaptar ao ambiente, como precisa fazer se quer
pegar um brinquedo num lugar alto demais ou escalar uma cadeira para sentar
nela, sem contar o desconforto de comer numa mesa em que ela não consegue levar
a colher até a boca por não alcançar a colher, isso se a colher couber em sua
boca.
O ambiente
é preparado e modificado a favor das necessidades da criança. E é importante ter
isto em mente pela autonomia ser a expressão da vontade de uma pessoa, mesmo
adultos. È impressionante como adultos não desenvolvem sua autonomia de forma
plena, vê-se isso por não saberem tomar decisões, por não saberem lidar com a
disposição do ambiente, em geral o fazem por não serem convidados a se
expressarem como desejam, devem seguir as regras pré-estabelecidas, mesmo que
não seja de seu agrado. Algo que favorece o estado de heteronomia são as
respostas “porque sim!”, “porque eu mando nisto!”, “isso é meu e eu posso fazer o que eu quiser
com isso!”. Será que essas crianças ouvem muito isto?
Não é
incomum que pais percebam os filhos como objetos obedientes, desejam seu bem
acima de tudo, mas há limites desnecessários para o que podem e querem fazer, o
que acaba por frustrar e angustiar as crianças. No anime, as crianças mantém
uma atitude heterônoma até decidirem ir para o Digimundo, até aquele momento
elas estão quebrando regras, sabem que seus pais ficarão bravos se souberem que
andam se arriscando por aí e saindo no meio da noite. Quebram as regras porque
não entendem aquelas regras como necessárias, se pudessem decidir alterações
nessas regras com seus pais, tentariam modifica-las para fazer os pais
entenderem que existem digimons maus por aí e que eles precisam da confiança
dos pais para cumprir o dever moral de cuidar da sua cidade e das pessoas nela.
Em nenhum momento elas agem infringindo a regra por egoísmo, fazem-no por terem
um senso de justiça, comum a toda criança.
A mãe de Takato é protetora, não quer que aconteça nenhum
mal ao filho, mas resiste que ele se afaste dela diversas vezes, e é no último
combate que ela passa a confiar na capacidade do filho e percebe que ele deve se
afastar dala. O pai, por outro lado, na primeira conversa que o filho tem sobre
afastar-se deles para cumprir sua missão, compreende que é necessário deixar
ir, e ele não apenas apoia as decisões do filho como mostra preocupação
preparando pães para a viagem, o que demonstra apoio.
A
simbologia de desvincular-se da mãe está ligada a deixar suas raízes e não se
prender à terra em que nasceu. A mãe, quando impede isto, transforma-se no
aspecto maligno arraigado no inconsciente, a terra que engole as aspirações do
jovem fruto; o que deveria representar a nutrição, a continuidade, o progresso
e o sentimento de proteção, torna-se morte iminente, fim da vida, impede o
crescimento psicológico, comumente simbolizado pela Mãe-Terra. O pai, por sua
vez, pode assumir a imagem do Velho Sábio, representando a autoridade, o
conselheiro, um tipo de mestre ou guia, e em oposição pode se tornar figura que
castra os desejos da criança, pode ser um destruidor, um ditador.
As crianças
esperam que seus Eros tenham o suporte da Mãe-Terra e do Velho Sábio, e a seu
tempo, criam independência conforme as circunstâncias clamam por isso. A ida
das crianças para o Digimundo traz o arquétipo do Herói de forma coletiva: o
combate, a missão, a aventura, as conquistas, a luta para salvar o mundo, e
para conseguirem vestir este arquétipo devem encontrar a harmonia dos
arquétipos materno e paterno com o seu. Portanto, a mãe não deve fazer o papel
da madrasta má e o pai não pode ser o falo autoritário.
A mãe de
Jenrya demonstra ser uma mulher fiel à família, dedicada em suas tarefas e bem
obediente. Num episódio em que Jenrya está no Digimundo ela pergunta ao marido
se Jenrya voltará, ele diz que vai sair para dar uma volta, buscava evitar a
conversa, ela interpela o marido perguntando se ele não acha que ela está
triste também, se não está sofrendo pelo afastamento do filho. A mãe parece não
receber muito suporte e afeto da família, cuida demais dela, mas recebe poucos
cuidados. Parece que quase não sai de casa. Já deve estar cansada de viver sob
quatro paredes.
Shu Chong,
irmã de Jenrya, parece dedicar mais tempo ao irmão e ao pai do que à mãe. A
família ainda possui uma irmã mais velha, que deve estar no começo da
adolescência e imagino que deva estar ligada à mãe ou já busca sua
independência. Quando vemos o pai de Jenrya, ele está sempre no trabalho, na
mesa de jantar com sua família, com o Sr. Yamaki ou com Jenrya e Shu Chong: a
irmã mais velha não possui presença na vida do pai, o que leva a supor
proximidade com a mãe ou encontro com amigos. Quer estar fora de casa.
É bem possível que Jenrya seja o irmão modelo de Shu Chong,
a maior prova disto é Terriermon e Lopmon serem tão parecidos, com exceção da
cor e da quantidade de chifres. Se os Digimons podem ser a personificação do
inconsciente, os chifres a mais demonstram a posição fálica que a irmã possui
em relação ao irmão, pensando em superá-lo. Ou, ele não é mais irmão modelo e
ela se vê melhor que ele.
Ruki não
possui pai, nem quer saber sobre ele, é algo que prefere reprimir. Sua família
é sua mãe e sua vó, presenças muito femininas, o balanço que Ruki faz é recusar
o feminino em casa, assim como o pai recusou. A mãe de Ruki trabalha como
modelo, é uma mulher que possui um gosto estético muito voltado para a mulher
feminina de saia, estampas floridas ou o que estiver em voga no mundo da moda
para as mulheres. Tenta convencer Ruki a usar os vestidos e roupas que compra
para ela, mas a menina prefere suas próprias roupas. Sendo uma mulher com um
trabalho, é uma mulher independente, com seu próprio sustento e que não se
incomoda em não saber cozinhar. Ruki parece seguir os passos da mãe, mas
demonstrando seu animus.
A avó é bem
compreensiva, não permite que os preconceitos atrapalhem seu juízo e acompanha
as transformações tecnológicas (nem Ruki usa o computador e sua avó sim). É
provavelmente a única adulta que não se assusta ou se impressiona com os digimons,
ao ver Renamon frente a frente pela primeira vez, agradece a ela por ter
cuidado da neta, sempre com uma calma característica da idade.
A família de Ruki é uma representação clara da possibilidade
de novas formações familiares, e com esses novos conjuntos surgem novas
demandas no meio familiar. São novos tempos, novas formas de pensar, novas
formas de se colocar no mundo.
A fascinação de Ruki por Ryo se
explica também por ele morar só com o pai. Para ela falta o pai, para ele a
mãe, o que os torna mais próximos de uma sizígia. Diferente de Ruki, Ryo parece
ter superado a falta da mãe.
Katou vive numa família
semelhante a de Jenrya, com diferença do pai ser extremamente viril. Como é de
se esperar, toda persona muito masculina possui uma sensibilidade feminina que
tenta compensá-la. O amor pela filha faz com que ele utilize seu orgulho de
homem para resgatar a filha e preservar sua anima.
Katou possui um irmão menor. É
bem comum que os pais atribuam ao filho mais velho a responsabilidade pelo
filho mais novo: “você é o mais velho,
deve ser um exemplo para ele”. Katou sente que é sua responsabilidade tudo
o que acontece a partir da morte de Leomon, que pode refletir seu dever como
mais velha, uma postura que ela deveria ter interiorizado desde o nascimento do
irmão.
Katou presencia a morte da mãe,
não concorda com a atitude do pai em considerar a morte um destino. As memórias
de Katou, sob a análise do Matador, não reconhecem no pai preocupado em
resgatá-la, a atitude de um salvador, pois durante sua vida o pai nunca
demonstrou lutar contra o destino, é estranho para Katou, envolta pelo Matador,
o pai que não aceita perder a filha, porque este é seu destino, ele deveria se
conformar com o isolamento de Katou (morte simbólica) do mesmo modo que aceitou
a morte da mãe. E mesmo na morte da mãe podemos observar que ele aceita a
contragosto a morte da esposa, Katou não percebe isso, para ela o pai aceita a
morte da mãe e isso faz dele um estranho para Katou. Talvez Katou tenha
convivido desde esse dia com um homem que ela não considera seu pai.
Kenta parece viver apenas com uma
família parecida com a de Jenrya e de Katou, apenas não compartilhando seus
bens com os irmãos por ser filho único. A mãe segue dona de casa e o pai sai
para trabalhar.
Kazu convive com um pai rígido,
como o de Katou, e aparenta não ter mãe, embora tenha uma irmã que substitui a
figura materna. A irmã, por sua vez, parece possuir um temperamento irritadiço.
As famílias de Kenta e Kazu não
possuem muito destaque no anime, o que dificulta a elaboração de qualquer
análise. Em todo caso, se podemos dizer que os comportamentos da criança são
reflexos do meio familiar, vemos uma postura de presença nas ações de Kazu que
poderiam ser reflexos do pai e da irmã – não
deixar ser vencido, impor-se.
Enquanto Kenta é mais reservado, o que implicaria a projeção da personalidade
dos pais a sua própria personalidade.
De uma forma geral, os pais fazem
dos filhos cópias de si mesmos e sem perceber que o fazem. As diferenças
trazidas de fora de casa são aniquiladas a favor de uma homogeneização não
consciente. “Quem te disse isso? Não é
assim, está errado”. “Você vai fazer
o que? Isso não é pra gente que nem você, meu filho”. “Ouça o que estou te dizendo, já passei por isso, eu sei do que estou
falando”. “Na minha época era
diferente, não tinha nada disso!”. “Enquanto
morar debaixo do meu teto, eu que decido tudo!”. E é desta forma que
educamos nossos filhos: com ideias prontas, por alguém decidindo por eles, pela
imposição, pelo autoritarismo, desvalorizando as diferenças de pensamento. O
maior problema é quando os filhos identificam-se com esses pensamentos
heréticos para a família. Intensificam-se os problemas apenas porque os pais
não são flexíveis, não ouvem seus filhos, não querem saber seus interesses.
Os pais não devem conversar
diariamente com seus filhos porque estudaram muita psicologia e isso será um
fator de sucesso no futuro de seus filhos, devem fazê-lo porque se importam em
ouvir seus filhos, as surpresas que eles compartilham, o que aprenderam, os
amigos que fizeram, os problemas pelos quais estão passando, uma história que
ouviu, uma piada que aprendeu, as fofocas e namoricos que perpassam a sala de
aula.
Os pais devem passar por uma
desconstrução de si, questionar-se sobre sua própria educação e então pôr
contra a parede esses princípios de educação que são seus e se perguntar será que é isto que meu filho precisa? Será
que é isto que meu filho quer? Estamos sempre tão confiantes de que sabemos
o que é melhor para nossos filhos, e essa confiança vem de uma surdez que
aplaca uma quantidade considerável de famílias. Se as famílias conhecem tão bem
seus filhos de onde surgem tantos desencontros e tantas brigas? Vem de um
confronto de ideias, obviamente. Por que existe este confronto? Por que existe
uma resistência em pensar que os filhos podem pensar diferente dos pais. Isto
sendo colocado de forma muito simples.
Quando digo os filhos não podem pensar diferente dos pais, não é no seu sentido
estrito, existem pontos que podem divergir dos pais, normalmente são aqueles
que trazem status para dentro da
família: um diploma que os pais não possuem, amigos com posições sociais
privilegiadas, um emprego diferente dos pais que coloque dinheiro dentro de
casa. As diferenças devem ser um benefício geral. As igualdades apresentam-se
na escolha dos ideais políticos, de namorados/namoradas que os pais aceitem,
recusa da homossexualidade dos filhos, dos locais de lazer, da literatura, do
cuidado com o corpo. É bem comum ver muita hipocrisia também, do tipo Faça o que eu digo, mas não faça o que eu
faço! E eis que o pai diz para o filho não fumar maconha quando ele mesmo
não via nenhum problema nisso, ou ainda, graduada em educação física, a mãe diz
Vai fazer engenharia tem algumas áreas
que não prestam.
As experiências de vida dos pais
são tão amplas que eles se sentem na obrigação de encaminhar os filhos para o
bom caminho, aquele que gerou sucesso, e adverti-los do fracasso compensando
com outras possibilidades diferentes das que moldaram seu fracasso. Os filhos
logo perceberão a inconsistência dos pais por seu discurso ser uma meia verdade
ou, por respeito, não discutirão: seus pais nunca lhes mentiriam. Há ainda os pais
que estão cientes do erro e da ilusão que a educação provoca e sabem que nem
tudo se resume a traçar o caminho para os filhos, há vezes em que eles devem
fazê-lo sozinho e os pais não devem impedi-los; como pais cientes das
contradições da educação, entendem que há momentos que um conselho é sempre bem
vindo.
Os pais não podem exigir que os
filhos sejam idênticos a eles, embora tenham certa razão em escolher uma
determinada educação, aquela que englobe suas convicções e suas crenças, e
nunca deixando de ter ciência que a escolha mais sábia pode ser a mais
desastrosa. Prezar a autonomia é importante justamente para encontrar esse meio
termo. O quarto montessoriano é onde o bebê decide para onde irá, como irá, com
que brincará, como se organizará. Há de lembrar que são os pais que montam o
quarto e que o bebê está sujeito ao gosto dos arquitetos, e nem por isso eles
devem ser punidos. Como poderiam perguntar ao bebê qual brinquedo ele quer se
ele não adquiriu linguagem para comunicar suas vontades?
Em Digimon Tamers, Yamaki é o
adulto desacreditado que as crianças possam ser alguma diferença, e no final é
quem diz aos pais O destino está nas mãos
de suas crianças. Ainda hoje são necessários adultos dizerem a outros
adultos que seus filhos são sujeitos com sonhos, desejos, motivações,
pensamentos complexos, que possuem uma forma muito característica de enxergar o
mundo, que não precisam permanecer heterônomos até completarem 18 anos. Repito
que não é incomum encontrar adultos heterônimos. A virada dos 17 para os 18
anos não é uma passagem mágica, não se torna autônomo a partir daí, esse processo
deveria ter começado há anos, já no período infantil.
As famílias possuem uma
responsabilidade enorme para com seus filhos. Após assistir Digimon, a criança espectadora
presencia os pais das crianças apoiando-os e percebendo que eles possuem
responsabilidades e são capazes de cumpri-las, em outras palavras, eles põem-se
em risco indo salvar o mundo, podendo nunca mais voltar e seus pais entendem
esta posição, enquanto a criança espectadora não pode comer de garfo e faca sem
que os pais digam o quanto isso é perigoso. Para crianças mais velhas
converte-se no não poder sair de casa com os amigos. Não poder ir para este ou
aquele lugar sem os pais. Não andar com este tipo de pessoas. Restrições.
Proibições. Castigos. Punições.
As crianças querem ser
responsáveis, elas querem fazer algo que seja significativo para elas e para
outras pessoas (lembre-se que elas possuem um senso de justiça). O que elas
precisam é que seus pais deem esse suporte, se as crianças do Digimon podem ter
pais compreensivos, por que elas não podem? Não é como se os pais não se
importassem mais com os filhos, é por se importarem que eles devem permitir
liberdades, como aquelas que encorajam ações autônomas. Agir com liberdade não
significa agir sem leis, este é um discurso deturpado de quem não compreende
que existem estágios de desenvolvimento moral na criança. Vale lembrar que as
crianças ajustam as leis dos jogos para que todas consigam brincar; na menor
presença de alguém que não joga dentro das leis elas simplesmente não permitem
que essa criança brinque, pois suas atitudes são injustas. Com o tempo,
conforme crescem, elas vivenciam espaços sociais cobertos de normas, de formas
certas de se portar, mais leis, e são levadas a questionar essas leis, e não
por elas serem um saco, as leis
poderiam ser outras, provavelmente, leis mais justas para todos.
A autonomia é esse governo de si
mesmo desenvolvido em condições favoráveis do ambiente. É alcançada em espaços
que querem ouvir o que você tem a dizer, sugestões, ideias, coloca-las em
igualdade de importância com ideias dos mais velhos. No desenvolvimento da
autonomia você percebe que não apenas ocupa espaço, mas faz algo com aquele
espaço, o feedback é exatamente a
avaliação e o julgamento que os outros fazem de você. Daí que autonomia implica
numa educação solidária e de reciprocidade, e por essas razões não é pura
libertinagem.
Se existe identificação entre as
crianças espectadoras e os personagens do Digimon, podemos esperar que elas
encontrem inconsistências e/ou alternativas para sua educação e digam eu quero tentar isto!
Não haverá porque um pai negar
tal pedido, já que é seu filho que está lhe mostrando uma nova forma de
educação. As crianças sabem como querem ser educadas, elas podem perceber isso
pela identificação com os arquétipos dos personagens. O arquétipo esboçado pelo
personagem mostra não apenas os conflitos, mas formas de resolução. Mesmo
Katou, que perde a mãe muito cedo e não é tão próxima do pai, encontrará um novo
animus e redescobrirá a relação com seu pai.
As crianças precisam ser ouvidas
mais, elas não são tábulas rasas, e Montessori há muito tempo nos confirmou
isto. A criança possui um espírito livre, enjaulá-la nunca foi uma opção
pedagógica. Da mesma forma, os pais dos
personagens expressam sua compreensão sobre o espírito de suas crianças no
episódio 44:
PAI DE TAKATO: Nenhum pai neste mundo permitiria que seu
filho fizesse algo perigoso. Isso nunca. (...) Mas nenhum pai tem o direito de
impedir uma criança de fazer o que ela realmente quer.
MÃE DE TAKATO: Não podemos encontrar pais e filhos nesse
tipo de situação, podemos?
MÃE DE JENRYA: Decidimos parar de ficar esperando a sua
volta preocupados, e por isso decidimos ser úteis a vocês. (...)
MÃE DE RUKI: Sabe, nós não dissemos que vocês podiam ir. (...) Não consigo só dizer
boa sorte e me despedir. (...)
AVÓ DE RUKI: Você entende, não é, Ruki? (...) Nós não sabemos quanto tempo iremos
ficar nesta casa, mas faremos o melhor para podermos ajudar vocês. Então, por
favor, não desperdicem suas vidas, está bem?
(Continua...)
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