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domingo, 7 de agosto de 2016

Notas sobre Digimon Tamers: virtualidade, identificação e cultura (Parte final)

  Quando o virtual torna-se real

          Antes de mais nada, virtualidade é uma possibilidade de realidade e pode ser tão real quanto a realidade concreta, se é que e podemos chamá-la assim. O Digimundo é idêntico ao mundo real: é uma criação do pai de Jenrya e seus colegas baseado no conhecimento que possuem sobre seu mundo real, transportados em dados para compor um mundo virtual. Não é de se espantar que haja tantos paralelos entre os Digimundo e a Terra.
            A virtualidade, entretanto, é comumente concebida como uma ilusão, uma estada temporária onde a consciência sente estar sem estar lá de fato. Poderíamos dizer que é uma concepção muito concreta do mundo, muito enraizada e inflexível, ao menos para os adultos. Se o Digimundo não é real, como são muitos jogos, os Digimons também não podem ser reais. São dotados de uma consciência artificial, são inteligências artificiais, estão previamente programadas com comandos que permitem aprender sobre o mundo. Ora, nosso cérebro não é pré-programado por uma genética? O que nos torna tão diferentes? Os humanos temem os Digimons, evitam-nos, parecem perigosas.
            Possuindo uma consciência parecida com a consciência humana, eles não deveriam ser reconhecidos dentro da ética dos relacionamentos? Como podemos saber que existe uma consciência nos Digimons, afinal? Talvez não tenham, são apenas dados. Como sabemos que possuímos consciência? Sabemos porque o que conhecemos é nossa consciência, podemos concluir, como faz Daniel C. Dennett, que não conhecemos nosso próprio corpo, mas aquilo que a consciência afirma ser nosso corpo. Não possuímos dúvidas de que temos consciência, pois nos reconhecemos como sendo aquilo pensamos.
            Como reconhecemos outras consciências? Provavelmente porque são parecidas com a nossa. De onde vem essa exclusão do s Digimons? Por que é tão difícil aceitá-los como portadores de um livre arbítrio sendo que são tão conscientes como nós, aliás, conscientes como nós, pois a modelagem de suas consciências programadas para interagirem com as crianças, por esse motivo (e isto é explicado no anime) os Digimons se dão bem com as crianças. 

         Ruki é única que demora a reconhecer Renamon como um sujeito consciente, antes era apenas um objeto feito de dados, possuía utilidade, cobria necessidades, e não demora a Ruki perceber que Renamon é sua amiga, sua parceira. Concebendo o amor que as crianças possuem ao Digimons, elas amam a si mesmas, ao mesmo tempo que amam algo que é diferente delas e possui uma organização própria e autônoma à consciência das crianças, podendo ser caracterizada como a instância inconsciente, cheia de vida, que se comunica com a verdadeira consciência ou simplesmente uma consciência verdadeira, ideias que se originaram de pessoas com ideias.
            Os Digimons não são apenas o inconsciente pessoal, são arquétipos que vêm do inconsciente coletivo, do Digimundo. A virtualidade, esse mundo possível, é um mundo muito próximo do nosso, com diferenças que logo vão sendo ressignificadas e aproximadas às imagens do inconsciente pessoal, que trazem não apenas experiência e formas de resolver os conflitos internos, mas é singular em sua generalidade a partir do momento que o coletivo age no pessoal. O encontro de mundos gera estranhamento, mas é essa catástrofe que organiza e recompõe as peças fora de seu lugar.
            Para o virtual ser real, ele precisa ser compreendido dentro de suas próprias regras. A interação entre os mundos clama por alteridade. Sem reconhecimento não há conhecimento.
            Outra discussão mais ampla seria: devemos conceder liberdade às criações humanas que possuem algum tipo de consciência, como as inteligências artificiais. Ficou claro para todos no anime que os Digimons deveriam ser livres a sua maneira sem causar danos ao mundo real (embora eles retornem ao Digimundo, no final).
            Mizuno ao responder a pergunta de Takato sobre os digignomos serem vivos responde – Por que se importar se são vivos ou não? Até a Terra pode ser considerada algo vivo, vocês sabem, é só pensar nela como um ecossistema. Se uma criatura que está nela é um ser vivo ou não para esse sistema isso não importa, não é verdade?
            A discussão sobre consciência alcança horizontes filosóficos impressionantes e que não devemos ter medo de apresentar para as crianças. As células podem não ser conscientes, são autômatos, diria Dennett, elas formam tecidos, que por sua vez formam órgãos, depois sistemas. As células se complexificam em sistemas que permitem a vida, e que poderíamos considerar sem vida, já que não faz diferença pensar se elas possuem ou não alguma consciência. Dennett nos faz pensar se existe consciência num braço decepado do corpo, afinal de contas, ele é formado pelas mesmas células que contribuem para a formação da nossa consciência, ou ainda, células que proporcionam a vida. Mas reservamos isso para nossos neurônios e o sistema nervoso central: se tem que haver consciência é graças a ele, segundo o balanço que Dennett faz sobre seus autores.
            A Terra poderia possuir sua própria consciência? Uma mente? Ou ainda: realmente importa pensar nessas proporções se ela faz parte de um sistema solar e as galáxias são consequências de formações de milhões de estrela? Toda a formação do universo convergiria para uma única consciência ou mente? Poderíamos conceber mais mentes num universo?
            Seriam perguntas interessantes para as próprias crianças responderem e se posicionarem eticamente: os animais possuem uma mente? Por que amo meu cachorro se ele é diferente de mim? Por que me sensibilizo ou não quando um animalzinho morre? Por que cortamos as árvores sem piedade? Será que o planeta sente o que fazemos? Se somos um sistema organizado, por que os seres humanos parecem tão independentes do resto do planeta? Por que os seres humanos submetem o planeta a ser uma fonte de recursos finita?
            De forma mais simples: por que ignoramos algumas pessoas? Será que as outras pessoas não sentem algo como nós sentimos? Será que algumas pessoas não são parecidas conosco? O que de tão diferente entre mim e as outras pessoas? Elas ficam tristes? Elas gostam quando as elogiam? Elas preferem que as chamem pelo nome ou pelo apelido que eu inventei? Elas gostam de ser quem são? Elas gostariam de ser como eu sou? Eu gostaria de ser como elas são? Será que eu conheço as outras pessoas tão bem? Eu sou capaz de alcançar a consciência das outras pessoas?

Impmon: o personagem negro


Impmon carrega em si os complexos das raças e etnias negras, bem como a imago do negro no branco. Podemos dizer que Impmon é a maior caricatura do negro na animação, cujo processo de individuação é controverso pela leitura da psicologia analítica associada às questões étnico-raciais.
A leitura que faço deste personagem em muito se assemelha com o que Frantz Fanon escreve sobre o negro em seu livro Pele Negra, Máscaras Brancas. Primeiramente, os arquétipos montados por Jung, segundo Fanon, retratam aspectos negativos no inconsciente, são valores inferiores, deve-se compreendê-los para descartá-los.
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Impmon é a imagem do Malandro, também é uma criança, dois estereótipos muito fortes no negro. Ele é o rapper, o enganador, o oportunista. Ele também possui pouca escolarização e não é tão inteligente, portanto, conversam com ele como se fosse uma criança, o que realça o complexo infantil.
Ai e Makoto são seus parceiros, consciências brancas e em conflito. Impmon deseja ser parte do mundo de Ai e Mako, ele é o inconsciente que quer confluir à consciência. Pela primeira vez, Impmon é o arquétipo que foge. Ele é um material do inconsciente coletivo que não pode mostrar-se como tal, ele é reprimido e não pode se manifestar como quer.
Sua agressividade vem de querer ser reconhecido, mas ser desprezado entre os Digimons e entre os humanos. Quando ele está no mundo humano, deve fazer escolhas para ser humano, é o conteúdo inconsciente que se submete aos moldes da consciência branca, que ao invés de gerar o conflito, se rompe e se corrompe ao contato com a cultura branca; por esses traumas, retorna ao mundo Digimon com marcas de dor, mas percebe que não pode mais sofrer, e nenhum de seus semelhantes pode mais sofrer, embora todos se encaminhem para serem parceiros de seus treinadores.
Todos os outros Digimons são reconhecidos e incorporados no pensamento dos parceiros, são aceitos, só Impmon que permanece à deriva por uma recusa da consciência que parece dizer “não é disso que precisamos aqui”. Assim surge sua agressividade, da incompreensão e da estigmatização.
Os negros são a encarnação do Feio e do Mal, também são os Demônios, e sua evolução – Belzebumon – carrega a imagem do demônio. A arma que ele carrega é um símbolo fálico de poder, e não é incomum que o negro tenha sua representação genital demasiadamente acentuada nas sociedades brancas. A moto não é apenas velocidade, é forma mais eficaz de não se prender a um lugar, é a fuga automática da realidade, é um sentimento de não pertencimento a lugar, uma solidão de percorrer as terras sem nenhuma ser sua pátria. Depois de conhecer o mundo branco, o negro não retorna a sua pátria, e quando retorna, possui sua negritude branqueada. Agora não é mais negro. Também não é branco. Não pertence mais a lugar nenhum, sempre há uma parte dele que não se encaixa em lugar algum. Uma dessas partes será estranha, incognoscível, recusada; então ele torna-se sozinho. 
Por muito tempo Impmon fica sem parceiros, as imagens inconscientes que ele traz não se tornam conscientes, nenhuma delas. O que acontece é a aceitação de Impmon ao mundo branco. O arquétipo negro se branqueia, e somente assim firma-se no consciente. As representações coletivas do negro perdem espaço nas consciências alienadas que propõe a maldade e negatividade naquilo que é negro. O que é a sombra senão aquilo que temos medo de mostrar às outras pessoas? Se o negro possui arquétipos negros, seria sua sombra branca? Não parece uma concepção válida, parece dicotômica demais, e separa a possibilidade de interação entre as civilizações brancas e civilizações negras.
O que não deveria ser permitido é a supremacia da consciência branca sobre a consciência negra, ou ainda, a preferência do inconsciente branco sobre o inconsciente negro. Não existe identidade negra no inconsciente que possa se manifestar sem significar perturbações na psique. Para Fanon, existe um combate do preto à própria imagem.
Fanon faz a defesa a uma confusão que existe entre o instinto, que pressupõe imagens inconscientes universais, e o hábito, que se dá no plano material e não pertence, necessariamente, ao inconsciente. A construção dos arquétipos negros, para Fanon, são um erro crasso de análise, na verdade, são hábitos culturais confundidos com instintos da espécie. Se é instinto, pertence à natureza do homem, com isso, justificamos os atributos negativos e o trauma previsível que causa a imago do negro. Porém, enquanto hábito, o negro é pervertido e desqualificado por uma visão errante, por uma perspectiva etnocentrista a cultura negra é levada a desaparecer do inconsciente.
Impmon, conciliado com as consciências brancas de seus parceiros e o aspecto infantil ao qual o inconsciente deve se submeter, adquire asas negras na forma de Belzebumon e uma arma de brinquedo. Aqui ele já se sente livre, sabendo que é negro, mas acolhido pelos brancos, que provam isto na entrega da arma-falo. Em outras palavras, presenteiam-no com um símbolo que já pertence a um mito do branco sobre o negro – seu aspecto genital, e ele acolhe este símbolo com honras.  As asas substituem a moto: cessa a fuga, começa a liberdade e a ascensão. 
A individuação de Impmon seria para Fanon um processo controverso, visto que ele não é reconhecido sem ter que submeter-se a uma cultura para ser reconhecido. Ele deve negar sua identidade e adequá-la a uma consciência que não gera apenas conflito, gera negação de si, dúvida sobre si mesmo, uma confusão entre os símbolos que lhe parecem sinceros e aqueles que lhe dizem que são o caminho correto.
Impmon pode traduzir-se na conversão do material inconsciente indesejado, embora necessário por fazer parte do inconsciente coletivo, para uma imagem mais tranquila de ser recebida pelo consciente que nega suas raízes negras. O inconsciente que deveria chocar o consciente, é chocado, despedaçado; não tornando-se consciente, é substituído, permanecendo inconsciente, há de desaparecer, já que os arquétipos são formados a partir de imagens contidas no mundo concreto das ações; se os arquétipos negros não são mais necessários para preparar o indivíduo para o mundo no qual atuará, se suas ações podem depender de outras imagens psíquicas, logo a frequência dessas imagens negra não terá espaço significativo na psique, será sempre um trauma e um conflito, nada mais que isso. Se elas podem ser substituídas por imagens com uma representação mais fiel ao mundo das atividades concretas, assim ela será reconsiderada.
Não sabemos se as imagens do inconsciente coletivo podem desaparecer, e somos levados a crer que elas se acumulam com o tempo. Devemos também crer na capacidade produtiva e reprodutiva da psique ao lidar com os símbolos. Desta forma, os arquétipos do negro poderiam ser (re)adequados se fosse o caso, sem contar que as culturas são capazes de modificar o viés científico das ciências e nunca são estáticas, o que inevitavelmente provocaria transformações nos símbolos do inconsciente coletivo. Aparentemente, como Jung sugere em suas pesquisas sobre psicologia das religiões, os símbolos não desaparecem do inconsciente, assumem novas formas, são preenchidos com outros significados, podem variar os mitos em que aparecem; possuem uma mobilidade possível, embora mais ou menos previsível. Isto, por si só, é uma grande esperança para o negro e culturas africanas, bem como a concepção das culturas que negam o negro e sua cultura: é possível a transformação da imago do negro, pensando desta forma.
Outra questão que o arquétipo de Impmon, sugerido como um arquétipo social, para não desagradar Fanon (hábito, não instinto), é se temos crianças negras assistindo este anime. O processo de identificação não precisa acontecer com Impmon, mas poderia acontecer com qualquer outro personagem branco, e na tentativa de pertencer ao mundo branco despertam o arquétipo de Impmon, e sofrem um processo semelhante em suas vivências: manter uma máscara (persona) branca cobrindo a pele (sombra) negra. O anime é originalmente japonês, portanto, voltado para as crianças do japonês, imagino, onde devem existir pouquíssimas crianças negras, onde deve ser incomum a presença do negro. A simbologia que se faz presente no anime é a simbologia de sua própria cultura, algo bem compreensível; quando se exporta essas imagens culturais para a américa latina, por exemplo, devemos revisitar elementos concentuais para a formação de identidade de um povo.
A globalização traz uma hipersaturação simbólica às mais diversas culturas, chegando a dificultar o reconhecimento dos próprios símbolos. A frequência com que uma imagem aparece na TV é significativa para ressignificar símbolos locais, levando à desestruturação, colapso e desaparecimento do regime simbólico de culturas menores, dominadas, desconhecidas, sem tanta influência ou reconhecimento global.
Digimon Tamers não é mais assistido, mas pode-se considerar que foi um anime impactante nos anos 90 para crianças que assistiam regularmente o anime, bem como as outras edições de Digimon. E há uma diversidade simbólica enorme na TV, com os personagens, os diferentes arquétipos, as variadas situações que são sugeridas, as formas de resolver os conflitos, as experiências vividas, e as situações têm seus sentidos ampliados e podem até tornar-se confusos e contraditórios. 

Conclusão

            Podemos perceber que os personagens, tanto de Digimon quanto de outras animações, desenhos, animes e espetáculos cinematográficos, podem sugerir arquétipos que fazem referência a uma cultura específica e/ou a um inconsciente coletivo. Não é nenhuma surpresa que haja identificação entre os espectadores (neste caso crianças, principalmente) e os personagens, que passariam a funcionar como arquétipos na resolução dos conflitos externos e internos da criança, assim como acontece quando a criança elege um conto de fadas de sua preferência. Imagino que o conteúdo televisivo possa ter a mesma função dos contos de fada.
            A narrativa do anime pode servir de pano de fundo para uma realidade que está sendo vivenciada, e nela possuem representações simbólicas. A própria relação entre pais e filhos no anime é ressignificada para contribuir com uma atitude autônoma da criança, e a identificação contribui para buscar essa autonomia, que em todo caso, depende da contribuição de seus educadores para a formação dessa autonomia e noções de liberdade.
            Aproximação com o animus ou a anima é extremamente ressaltada, salienta como os personagens meninos lidam com sua parte feminina e as meninas com sua parte masculina, e o pior cenário é quando os meninos devem adorar os símbolos masculinos e as meninas resignarem-se com a feminilidade.
            A relação simbólica entre domadores e Digimons é salientada na reciprocidade, não numa objetificação, o que implica, se bem trabalhado pelos educadores, uma desobjetificação das mentes e quebrar mitos que viemos alimentando por muito tempo, como: a inteligência de algumas pessoas possui limites, condições de existência desumanas para minorias sociais (casos de machismo, racismo, homofobia, etc.), reconhecimento das pessoas com deficiência física e mental, sendo esta última comparada aos casos em que concebem mentes às inteligências artificiais (a mente dele não é igual a minha, mas há uma mente ali, será que eu não devo me importar com seu bem-estar e trata-lo como uma mente?).
            O processo de individuação é chamado de evolução no anime, o que traz a ideia controversa do progresso ser linear e, se for conveniente teleológico, mas se nos atentarmos para o darwinismo que sustentou a criação de Digimon perceberemos que as condições ambientais trazem evoluções diferentes, como Guilmon evoluindo para uma criatura monstruosa quando Takato é tomado por uma ira descontrolada. A individuação baseia-se na aproximação com a experiência divina, representada pela digievolução, daí é trazida a ideia de religião e de Deuses, a retomada de mitos, a superação de si mesmo, a transcendência, a união entre consciente e inconsciente e a ideia de unidade, sempre representada pelo equilíbrio das quatro funções do inconsciente, muito bem representadas no anime.
            Por último, é questionado a validade da teoria do inconsciente coletivo por estudos étnico-raciais (onde utilizo apenas um livro, de Frantz Fanon, para ilustrar esse desacordo) e se não seria mais provável a noção de inconsciente cultural. Muito próximo da ideia de colonização do pensamento e de alienação da consciência temos a globalização expressando tantas imagens quantas sejam possíveis, o que dificulta sua assimilação e a compreensão dos símbolos de sua própria cultura, chegando a substituí-los por outros que mostram uma expressam estatística mais recorrentes e tendenciosos, que por sua repetição massiva, podem ser considerados novas imagens que virão a preencher o inconsciente coletivo, como marcas de roupas, rótulos de refrigerantes, estabelecimentos multinacionais, por exemplo.
            Em todo caso: um anime entre tantos, pode ser apenas um conteúdo divertido e/ou alienante, entretanto, são situações que podem ser reais e a identificação é a chave para que haja uma possibilidade do uso da teoria dos arquétipos, de estudos midiáticos e sociológicos sobre a apresentação daquele personagem e como as crianças carregam consigo as ideias, comportamentos e linguagem apresentadas. Digimon é o exemplo mais rico que consegui imaginar, mas é um exercício que pode ser ampliado, comparado, recusado, questionado, criticado ou aplicado.
            Talvez o que vemos seja mais que aquilo que vemos, por isso ele nos afeta. Porque é uma experiência simbólica e psíquica, sem negar qualquer traço de materialidade nessa interação.

(Este parêntesis foi escrito após a releitura desta postagem e suas predecessoras - partes 1 e 2. Na parte final percebi que há um racismo do escritor com a análise mobilizada: operar pela dicotomia branco/negro quando estão sendo representados japoneses/não-japoneses ou inteligências artificiais. Ainda que se possa fazer uma análise do mundo branco-europeu-ocidental, tratado por Frantz Fanon, no Oriente e, particularmente, no Japão, há limites para o uso de um inconsciente branco como demonstração da infantilização e feminização de um corpo negro, que esbarram, aqui, em representações com nenhuma ou pouca relação com o branco. Sendo assim, vale a pergunta: se o negro, aqui, não se diferencia do branco, qual seu par opositor e complementar? Também é possível questionar se Frantz Fanon é a melhor referência para estudar a personagem que denominamos negro, algo que é necessário ser repensado, dado a recente abertura cultural do Japão ao Ocidente, principalmente após a Segunda Guerra Mundial. Assim, que referências e que referentes da cultura japonesa colaboram para uma análise de seus materiais semióticos, os quais são lidos aqui com um interesse mais psicológico do que artístico? Ou ainda, se a própria leitura psicologizante não deturpa a possibilidade de utilizar ferramentas conceituais oferecidas pelas artes visuais para um estudo mais adequado da imagem, comentário válido para as partes 1 e 2).


Referências e recomendações de leitura

ALTMAN, Jack. 1001 Sonhos: guia ilustrado dos sonhos e seus significados. São Paulo: Publifolha, 2003.

DENNETT, Daniel C. Tipos de Mentes: rumo a compreensão da consciência. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

FANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas.  Salvador: EDUFBA, 2008.

JUNG, C. G. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Ed. 24. Petrópilis: Vozes, 2014.

MAMBERT, W. A.; FOSTER, B. Frank. Viagem ao Inconsciente. São Paulo: Círculo do Livro, 1973.

MONTESSORI, Maria. A Criança. 3ª Ed. Rio de Janeiro, RJ: Internacional Portugalia, [19-].

PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. 24a Ed. Rio de Janeiro, RJ: Forense Universitária, 2001. 

VINHA, Telma. O Educador e A Moralidade Infantil: uma construção construtivista. Campinas, SP: Mercado das Letras/FAPESP, 2000.

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