Introdução:
Recentemente reassisti Digimon
Tamers, depois de mais de 14 anos do seu lançamento nas televisões brasileiras.
Nunca consegui terminar o anime, o que me motivou a descobrir seu final e
conferir se os spoilers que meus
amigos me deram na época que eu parei de assistir eram verdade (e não eram). No total são duas temporadas com um total de 51 episódios
de duração aproximada de 20 minutos cada.
O que me motiva a escrever estas
notas são: a simbologia que percebi na animação; a identificação que os
personagens poderiam ter com os personagens e como isso poderia ajuda-las a
resolver seus problemas e conflitos (que seria feita através do símbolo); os
digimons como inteligências artificiais e sua aceitação pelas crianças; temas
de importância internacional que surgem de forma sútil no desenrolar do anime.
Descrição arquetípica dos personagens:
Temos
muitos personagens na animação, cada um deles como crianças de aproximadamente
10 anos representando um arquétipo. Inicialmente temos três personagens
arquetípicos: Takato, Jenrya e Ruki, e seus respectivos digimons: Guilmon,
Terriermon e Renamon.
Takato desenhando Guilmon |
Takato é a
representação do menino imaturo, introvertido, cabeça nas nuvens. O primeiro
episódio mostra como ele é o aluno distraído que é repreendido pela professora
e age de forma inocente. Não vê malícia nas coisas. Sua intimidade com as
próprias fantasias dificulta sua compreensão sobre o mundo objetivo, o que é
facilmente percebido por ele raramente ser o personagem que propõe as
interpretações para as situações que exigem reflexão. Em geral, age
impulsivamente, segue suas orientações internas e se importa verdadeiramente
com as pessoas ao seu redor. Guilmon é uma criação das anotações de Takato, preservando
qualidades da personalidade de domador, como um aspecto infantil acentuado. Está em um estado de heteronomia que o torna
facilmente influenciável, sendo Takato a voz de respeito para Guilmon. Este digimon,
além de transparecer um aspecto gentil, como Takato, se utiliza dos instintos
para proteger-se, o que muda sua atitude meiga para algo ameaçador e atento.
Guilmon no estado mais instintivo |
Guilmon,
assim como os outros digimons, são o eco e a compensação inconscientes de seus
parceiros. Guilmon representa os extremos de Takato. Sua infantilidade faz dele
muito dependente de Takato, como se fosse sua mãe, e por isso o obedece tanto.
Takato, desde que Guilmon aparece, deve cuidar de seu digimon e adotar posturas
mais maduras, devendo tomar decisões e escolhas por ele e por Guilmon, muitas
vezes, castrando Guilmon em suas atitudes demasiado infantis. Takato deve mudar
seus comportamentos infantis, já que eles não contribuem para manter Guilmon a
salvo. O outro lado de Guilmon é seu comportamento de caçador: olhos com
pupilas redondas tornando-se similar às de um réptil e o corpo eriçado, pronto
para o combate; o importante aqui é que ele também é a compensação da sensação
de fraqueza que Takato possui em decorrência de sua personalidade
introspectiva. Guilmon, quando atento, percebe o mundo externo de forma que
Takato não conseguiria normalmente. Em resumo: Guilmon é ao mesmo tempo a mente
infantil incompreendida de Takato e seus instintos responsáveis por restaurar a
realidade perturbada. Por Guilmon ser um dinossauro, faz sentido que represente
energias profundas no inconsciente de Takato, tanto aquelas que buscam
satisfazer as fantasias quanto aquelas que corrigem pela força os
desequilíbrios da personalidade.
Jenrya é o menino chinês, portanto, um estrangeiro na
história (que acontece no Japão). Parecido com Takato, deixa-se levar pelos
impulsos, mas de forma destrutiva. Enquanto Takato dirige suas energias para
si, Jenrya manifesta-a no ambiente. Sua postura calma é uma autocontenção
buscando evitar os combates e sua sombra. É um menino dedicado e busca ser o
mais equilibrado possível. Suas aulas de kung-fu são uma forma de terapia onde
concentra sua energia destrutiva tentando canalizá-la da forma correta com a
ajuda de seu mestre. Ao mesmo tempo que
trabalha sua energia interna, aprende a ponderá-la. Sua personalidade
aparentemente equilibrada resgata a insegurança sobre si mesmo, o que o torna
ciente da necessidade de ser reflexivo; duma personalidade ora introvertida ora
extrovertida, mas tendendo ao equilíbrio.
Da esquerda para a direita: Jenrya, Terriermon e Takato |
Terriermon,
com seu bordão “moumantai” (que
significa não se preocupar, relaxar) é o aspecto contrário à tensão
que Lee vive, é o alívio de viver, é uma forma despreocupada de levar a vida.
Em contrapartida, menos reflexivo e mais fluido aos acontecimentos, permitindo
se entregar facilmente às situações sem demonstrar resistência. Sabe quando
deve relaxar e quando lutar; em regra: todo fim de luta permite o descanso até
que um novo combate se inicie. Acha as atitudes de Jenrya muito duras, às vezes
desnecessárias, em todo caso, é precisamente a suavidade que Jenrya busca em
seu inconsciente. Em suas evoluções, Terriermon mostra-se destrutivo, portando
armas de fogo e mísseis: um resgate à necessidade de autocontrole de Jenrya.
Ruki é a menina que se comporta como menino (o animus
presente na personalidade): não é delicada, compete com meninos, prende o
cabelo num rabo de lobo (o que a faz aparentar desafiadora), não se veste
seguindo os estereótipos, fala de forma agressiva e rude na maior parte do
tempo, não gosta de apelidos fofos como Rukinha (não se incomoda ao ser chamada
de Rainha Digimon, pois simboliza poder nos espaços públicos que frequenta).
Não possui paciência com reflexões, toma decisões rápidas baseada na situação e
se prepara antecipando qualquer situação que o mundo possa lhe reservar (vemos
que ela passa muito tempo organizando as cartas que usará para Renamon). Por
ter dificuldades de se identificar com sua anima, seu aspecto feminino,
mostra-se inflexível a novas posições e não se submete facilmente, sentindo o
orgulho ferido quando sente que perdeu. Por não dedicar-se tanto ao seu mundo
interno, é prioritariamente extrovertida.
Da esquerda para a direita: A avó de Ruki, Renamon e Ruki |
Renamon,
representada por uma raposa, não deveria ser confundida com a imagem do animal
malandro e ardiloso, mas do animal sagrado japonês, com sua comum representação
pela kyubi (raposa-de-nove-caudas),
em que o número 9 representa o equilíbrio psíquico, ou, como é o caso, a
necessidade de se ter este equilíbrio. Renamon é o único Digimon que escolhe
seu parceiro, enquanto Takato desenha e dá vida a Guilmon e Lee seleciona
Terriermon num jogo de computador. Quando Ruki recebe o digivice, vários digimons
querem que ela seja a domadora deles por seu aspecto masculino e viril, que
demonstra poder, muitos, entretanto, assustam Ruki, fazendo com que ela passe
por medo e exposição. Renamon, como força reguladora, afasta essas figuras
malignas e preserva a personalidade de Ruki.
Renamon parece ser sempre muito sábia, quase individuada,
traz um ar de superioridade e serenidade. Mostra-se tão arrogante quanto Ruki,
mas por insistência da parceira em ser arrogante também: se a consciência
(Ruki) decide o que fazer, o inconsciente (Renamon) deve arranjar outras
estratégias de comunicar seus interesses.
Nos
primeiros episódios, Ruki recusa Renamon como sua amiga, sua parceira, reprime
as boas intenções de Renamon e comanda-a de forma rude. Esta atitude pode ser
entendida como uma dificuldade em reconciliar sua anima, que é justamente a
função inconsciente que Renamon vem desempenhar como balanço à realidade
psíquica de Ruki.
Estes são,
basicamente, a trindade do digimon. Também encontramos outros personagens com
representação arquetípica.
Leomon em sua primeira aparição |
Katou atende à representação da
anima que encontra em seu digimon, Leomon, seu animus, apaixonando-se por ele.
Como Leomon é um leão, representa toda a força, sensualidade e sexualidade da
parceira, que é o equilíbrio ideal entre os aspectos masculinos e femininos. De
maneira um tanto curiosa, Leomon deveria representar a força transformadora e
ativa, mas está o tempo todo a falar sobre o destino, o que o faz parecer
conformado e passivo, e esta viria a ser a expressão de sua anima, que encontra
em Katou o animus transformador e ativo, que pode ser visualizado pela
iniciativa de Katou em insistir a Leomon que fosse seu digimon e quando chama-o
de príncipe.
Katou, à esquerda, ao ver Leomon pela primeira vez e Kulumon |
Leomon possui uma persona
masculina completada pela feminilidade de Katou, e esta, por sua vez, é
completada pelo aspecto masculino de seu digimon. Assim, Katou possui seu
animus e anima trabalhando de forma organizada no seu inconsciente. É com a
morte de Leomon que Katou perde seu animus, não havendo mais equilíbrio
psíquico. Katou passa a exaltar o aspecto feminino de Leomon que é o destino,
gerando uma superabundância de símbolos femininos em seu inconsciente e prejudicando
seu processo de individuação. Depois será Takato quem substituirá Leomon como
animus.
Leomon, ainda por cima, apresenta
semelhanças com o pai de Katou por ambos falarem sobre o destino que
salvaguarda a morte, e Leomon consegue ser mais amplo que isto. O pai de Katou
menciona o destino após a morte da mãe, e Leomon continua falando em destino ao
morrer. Katou está revivendo um trauma e vivendo um novo trauma, embora ambos
os traumas rememorem o destino inescapável.
Takato resgatando Katou e Kulumon |
Ryo é a figura do Herói, representa
o justiceiro, pode ser confundido com Takato, mas guia-se por princípios e
valores bem definidos, com sagacidade no olhar e destreza nos movimentos, sem
contar que é muito seguro sobre suas próprias ações e decisões. É aureolado
como lendário pelos demais personagens, visto como um exemplo por suas
conquistas (já foi o Rei Digimon). Ruki se incomoda com a presença de Ryo por
ele ser um animus ameaçador, então ela compete com ele pelo controle da
situação. Ruki encontra em Ryo uma fixação que é simbolicamente resolvida no
último combate, em que Ruki abre mão de suas energias para reforçar às de Ryo,
em outras palavras, cede em sua posição de força para expor-se, mostrar-se
frágil, confiar a Ryo sua anima, sendo ele seu animus. Ruki se entrega à Ryo.
Cyberdramon apresenta-se sempre
numa forma evoluída, o que pode indicar prepotência de Ryo. Sua sede por
batalhas mostra como o Herói pode ter uma emoção incontrolável pelo desafio e
aventuras, sendo sua própria fraqueza, torna-o previsível, mas isto não é explorado
no anime. O que mostra que por traz de toda personalidade aparentemente
perfeita tendemos a nos desequilibrar. Ryo, para controlar a personalidade
sanguinária de Cyberdramon, utiliza um chicote de seu digivice, o que mostra
uma repreensão sobre si mesmo e como o Herói pode ser duro demais consigo ao
perceber suas falhas.
Cyberdramon, à esquerda, sendo contido por Ryo, à direita, e outros digimons atrás |
Hirokazu, mais conhecido por
Kazu, é a personalidade idolatrado/idolatrador com duas faces essenciais:
mostrar autoridade, o que implica em exigir que outros o respeitem;
simultaneamente, nutre respeito a outra autoridade. Para o primeiro exemplo
temos os primeiros episódios, em que Kazu, Kenta e Takato jogam cartas e Kazu
sempre vence por sua ofensiva pesada, que o faz invicto no jogo de cartas,
aumentando a honra, muito bem vista no mundo masculino. Sua atitude, muito
comum entre os meninos, encontra rivalidades em Ruki, que está sempre
humilhando-o, daí utiliza seu ídolo, Ryo, para jogar o jogo da honra contra
Ruki como quem diz “Quem é menos honrado?
Alguém que nunca caiu por não ter competido ou a Rainha Digimon que já perdeu
para o Rei e só detém o título porque o Rei desapareceu?”.
Kazu tornando-se tamer de Guardromon |
É muito interessante que
Guardromon seja uma máquina, presume movimentos rígidos, mecânicos demais, como
é a personalidade de Kazu, mas é Guardromon que está interessado em libertar o
povo Gekomon da tirania de Orochimon. Guardromon não consegue libertar ninguém
sem ajuda. É Leomon, que pode ter a sensualidade traduzida em vaidade, que faz
o trabalho que Guardromon pretendia. O que pode ser compreendido como abrir mão
da própria vaidade, que não consegue resolver o problema. Guardromon tenta, na
forma de Andromon, sua evolução, utilizar da ofensiva compulsiva para vencer
Orochimon, a mesma que resulta na sua derrota, assim como Kazu, mas sua melhor
participação é quando não está frente a frente com um inimigo, mas planejando
uma estratégia. A criatividade, resultado da efusão do aspecto feminino, é uma
forma de reduzir a vaidade e a honra para pensar as ideias.
Kenta é o elo mais fraco de todo
o grupo, demonstra masculinidade diante dos amigos, muito provavelmente
seguindo as atitudes de Kazu, o que demonstra sua dependência. MarineAngemon,
seu digimon, mostra-se claramente feminino, fazendo oposição a seus amigos; ela
também não se comunica muito bem, ou melhor, se comunica de uma forma
incompreensível para todos, o que poderia ser símbolo daquilo que gostaria que
seus amigos descobrissem, mas sem que precisasse falar. Enquanto todos estão
conseguindo seus digimons, Kenta é o último a tê-lo, o que causa uma
frustração.
MarineAngemon, à esquerda, e Kenta, à direita |
Kenta e Kazu parecem muito
amigos. Enquanto não possuem digimons, estão sempre juntos, quando Kenta
consegue Guardromon é Kazu que não possui companhia alguma e permanece num
possível complexo de inferioridade, deve ser protegido por seus amigos. Embora
não transpareça tanto essa fragilidade ao longo do anime, vemos que é quando
Kazu adquire o Guardromon que Kenta sente-se deslocado do grupo, não é apenas o
último, é quem não possui digimon algum: não iniciou seu autodescobrimento.
MarineAngemon é claramente uma
espécie de fada, cabendo neste momento como um indicativo da homossexualidade
reprimida, o que não é algo incomum de se pensar no Japão, um país onde a
homossexualidade não acontece livre e abertamente, onde andar de mãos dadas com
o parceiro ou parceira é impensável. A imagem da fada é substituto da ninfa
para a mulher e toda a atividade feminina. Em algumas culturas as fadas não são
bonitas e normalmente traiçoeiras, mas neste caso ela busca evocar um sentimento
de autoconhecimento do espectro feminino. Provavelmente, da anima substituindo
o animus da persona.
A fada pode, entretanto,
representar o gênero feminino e não necessariamente a sexualidade. Para as
crianças deve ser mais significativo a construção do gênero, do seu papel
social. A identificação com a fada mostra-se uma possibilidade de como apresentar-se
aos outros.
Shu Chong, irmã de Jenrya, é uma
criança que quer brincar e está numa fase de imaginar ativamente. Ela sente
medo das coisas, de modo geral, e requer proteção como qualquer criança em seus
6 anos de idade. Antylamon, seu Digimon, é o adulto que faz seus caprichos
enquanto traz a sensação de segurança. Entretanto, quando torna-se Lopmon é
incapaz de defender Shu Chong.
Shu Chong, à esquerda, e Antylamon, à direita. |
Sendo o símbolo do coelho, mais
especificamente do horóscopo chinês, Lopmon, e principalmente Antylamon,
cumprirão a regra e preservarão a ordem. A única coisa que impede isto é uma
nova ordem imposta, Sahochung. Antylamon age com bondade ao encontrar Shaochung,
não a negligencia, característica própria do signo; entre tantas outras
qualidades estão sua calma, a sensibilidade, graciosidade, tranquilidade e paz.
Sua parceira, ao contrário, é caprichosa, imediatista, enérgica, sem modos e
decidida. Não é preciso mencionar que um é veloz e o outro muito lento. O
coelho é uma referência clara à movimentação e Shaochung é a criança e ela
brinca, corre, se move.
Alice possui aparição rápida,
apenas traz Dobermon ao encontro de Takato, Jenrya e Ruki. Dobermon intercederá
com vontade divina dos Digimons Deuses permitindo a união das crianças com seus
Digimons (a bioimersão). A imagem do cão vem aflorar os instintos das crianças e
seu potencial para o combate, ou mesmo guia-las, como é tarefa comum dos cães
aos cegos, por exemplo.
Alice é de todos os personagens o
mais frustrado: não sabemos se ela mantém contato com seu Digimon, depois de
seu autossacrifício para um bem maior. Em sua última aparição, ela está andando
pelas ruas em sua roupa preta de luto e de cruz no pescoço. Sua aparição rápida
torna-a enigmática. É uma proximidade da morte diferente da de Katou; enquanto
uma lida com as surpresas e a crueldade da morte, a outra é confrontada com uma
morte piedosa e que, provavelmente, deixou um sentimento de saudade, sem
traumas.
Os quatro Deuses Digimons |
O Digimundo possui quatro Deuses, sendo que esse número
expressa a circularidade, o equilíbrio dos quatro domínios da psique
(sensação, pensamento, sentimento e
intuição), representam a unidade, como numa mandala. Na luta contra o matador, Ruki, Takato e
Jenrya, mesmo alcançando o estágio uno com seus Digimons, fundindo-se com eles,
precisam de um quarto integrante uno – Ryo – para completarem sua missão. Na
própria batalha dentro do Matador, são os quatro – representação da unidade
divina – que enfrentam o inimigo.
O Matador
toma a forma de demônios, fantasmas, criaturas assustadoras, fortes e que
encarnam o mal. Também faz uso da imagem da súcubus no corpo de Katou, a figura
feminina que seduz os homens para tortura-los. A forma principal do matador
assume uma imagem feminina com uma coroa triangular: a mãe destrutiva e divina,
aprisionadora dos filhos que aniquila suas vontades para manter-se
controladora. A mãe não proporciona mais a vida, a destrói, essa é a imagem que
traz o Matador.
O Matador na forma de súcubus |
Cada
evolução dos Digimons dos personagens é um autoconhecimento de seu próprio
inconsciente, o que auxilia na individuação de cada um deles. São momentos de
dificuldade e reflexão que proporcionam a aproximação com seus
Digimons-inconsciente, é preciso que haja uma tensão provocada pelas imagens primordiais
para tornarem-se conscientes e gerar familiaridade e reconhecimento desse
material que antes era desconhecido, recusado, impensado, inconcebível.
Na sua
forma mais individuada Takato torna-se um paladino leal aos seus amigos, que é
o Bem e lutará por ele, erradicando qualquer intempérie para uma pacificação;
antes de atingir o estágio de defensor da bondade, precisou decair na ira e em
sentimentos autodestrutivos, que encarnaram a imagem do dragão e do fogo
vulcânico para daí tornar-se luz e salvação.
O Matador em seu aspecto de divindade |
Ryo é a imagem de Robin Hood, age
de forma independente e possui um senso de justiça próprio na sua individuação,
tendo movimentos rápidos e, dessa vez, deixando de combater sozinho e criando
interação com as outras crianças, e é esta interação que faz toda diferença, é
nesta interação que seu antigo descontrole, expresso em seu digimon sanguinário,
não deixa mais traços visíveis, está reconciliado com sua autoimagem.
Uma cena de muita intensidade
para compreender o processo de individuação de Ruki é quando ela deixa de lado
sua persona masculina, representada na camiseta de coração partido, para
aceitar a camiseta de coração inteiro da mãe: recebe da figura materna e
feminina um presente que é, em todo caso, a aceitação de sua parte feminina,
sem por isso, deixar de ser masculina. Enquanto o masculino combate, o feminino
cedo, e é este oposto, antes inacessível para Ruki, que faz com que ela ceda
parte de suas forças à Ryo. A imagem de Sakuyamon, sua figura individuada, é
leve, equilibrada e sábia; Ruki comenta como é impressionante que ela consiga
sentir Renamon tão próxima dela, afinal, são uma só agora. As atitudes
masculinas pedem um distanciamento, um isolamento, e é essa aproximação que
faltava em Ruki.
Sakuyamon cedendo suas energias para Justimon
Jenrya não possui mais medo de
sua agressividade reprimida; seu medo de machucar os outros é superado e possui
um autocrontole maior. Em sua individuação sabe direcionar suas energias
destrutivas de forma coerente sem ser prejudicado e sem prejudicar as pessoas
que ama.
Ruki, Takato, Jenrya e Ryo são as
quatro funções inconscientes, sendo respectivamente intuição, sentimento, pensamento
e sensação. São as quatro secções equilibradas do círculo psíquico.
(Continua...)
|
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